sábado, 3 de janeiro de 2009

Mais do mesmo

Lá estava ela. Sorridente, como jamais a tinha visto antes, deslizava por entre os presentes convidados. Provocante e sensual, flertava com todos, independente de sexo, raça ou crença. Esguia e intensa, convidava a todos a dançar conforme seu ritmo, pouco se importando com o que dela poderiam pensar ou falar.
Todos, sem exceção, gostariam de ardentemente naquela noite tê-la de qualquer maneira. Queriam poder ver realizados seus mais recônditos e lascivos desejos no doce envolvimento com ela. Mas como já sabiam que seria muito difícil conquistá-la naquela festa, preferiram, literalmente, saciar sua sede voluptosa e carnal em copos de diversas bebidas. Não que o acesso até ela fosse da ordem do impossível - era, ao contrário disso, de fácil acessibilidade. Ocorre que o brilho dos seus olhos, a tenrricidade de sua pele e a liberdade de seu corpo a tornavam única naquela noite, vivendo na eloquência do instante toda uma vida. O momento era dela, somente dela, e ninguém poderia apagar o intenso brilho que de suas entranhas radiavam.
Acontece que eu a queria. E ela ao notar minha ansiedade se fez fugaz. Foi então que diante de minha incredibilidade sôfrega, passou a zombar de mim. Eu, como ninguém mais ali, desejava arrancá-la daquela festa e num abraço único tomá-la em meus braços e apertá-la contra o meu amargurado peito e amá-la ardentemente como se não restasse mais nada a fazer nesta vida.
Ela, essa maldita menina libidinosa, foi quem, naquela noite, crivou meu caos, pincelou de lilás-alaranjado meu anêmico pôr-do-sol, pôs gérberas em meu vaso vazio, aquarelou meus cinzentos dias, despiu-me avassaladoramente de meus princípios e preceitos morais para, em seguida, dizer-me adeus.
Ela, por quem tantas vezes ardi de desejo, por quem tantas vezes perambulei noites sem dormir, por quem tantas vezes acordei de madrugada molhado de suor e de devaneios imensuráveis, por quem tantas vezes fez minha vida parecer interessante, enclasurou-se num álbum verde de formatura. E toda vez que consigo, dolorosamente, abrir este álbum verde sinto o seu cheiro e a nostálgica lembrança daquela noite, quando ela, a minha felicidade, beijou-me suavemente os lábios, tornando-me vivo com sua presença, antes de, para sempre, partir.

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