sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Último post de 2010 (nas pegadas de Nathan)

Eu amo a vida,
mas não acredito mais nela.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Um pedido pra hoje:

Tira, la soga de tu cuello tira
la soga de mi cuello tira
y esto es verdad
y eran los tiempos de la primavera
dejaste tu sonrisa en ella
y esto es verdad.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Ela, efeito de uma nuvem

Numa manhã qualquer de primavera de 2010, uma nuvem sobrevoava não o mais alto céu, mas se fazia suspensa logo à altura dos meus olhos.
Surreal, mas palpável. Impossível, mas veraz. Tal nuvem era bela em seus movimentos de leveza.
Ainda distante e absorto em meu espanto, tentei dar-lhe alguma forma familiar, como quem possuísse o poder de decifrá-la e assim manter o controle sobre o que não conhece – uma relação, um símbolo, qualquer coisa para saciar um instinto tão primitivo. Em vão. Antes mesmo de começar eu já estava em desvantagem. Esta não se parecia com coisa alguma, era mesmo um enigma, um belo enigma. Devia ser apenas nuvem, tão perfeita que beirava o inconcebível, um tipo que só existe nos sonhos dos quais nos esquecemos.
Nuvens são bailarinas de um balé despreocupado, invertebrados que se arrastam suaves, ao acaso. Assumem formas impossíveis, a estética entregue ao caos e à sua teoria. São passatempos dos ventos, que com elas brincam. Encobrem o sol em brasa, suicidas, para então serem derretidas. Artes sazonais, caprichosas, instantes únicos em toda eternidade, que não ficam mais um dia, às vezes nem mais um minuto, para que possamos admirá-las. Mas esta eu quase podia tocar, quase podia sentir seu cheiro doce e sua textura lisa afável. Tão perto e tão longe. Jamais saberei explicar o medo pueril que me fez voltar e desistir da ideia de me aproximar e de tê-la. Preferi me afastar e apreciar ao longe o espetáculo de sua beleza.
Inevitavelmente, da mesma forma que ela surgiu, “do nada”, também desapareceu, sem deixar rastro. Na manhã de um dia qualquer de 2010, eu abandonei a esperança mais cedo do que gostaria. Antevendo o triste e inevitável fim, deixei minha nuvem e voltei para casa. Para que na memória ela permanecesse eterna, ainda bela. E verdadeira.

Das coisas que eu gostaria ter escrito...

O grito (Renata Pallottini)

se ao menos esta dor servisse
se ela batesse nas paredes
abrisse portas
falasse
se ela cantasse e despenteasse os cabelos

se ao menos esta dor se visse
se ela saltasse fora da garganta como um grito
caísse da janela fizesse barulho
morresse

se a dor fosse um pedaço de pão duro
que a gente pudesse engolir com força
depois cuspir a saliva fora
sujar a rua
os carros
o espaço
o outro
esse outro escuro que passa indiferente
e que não sofre
tem o direito de não sofrer

se a dor fosse só a carne do dedo
que se esfrega na parede de pedra
para doer
doer
doer visível
doer penalizante
doer com lágrimas

se ao menos esta dor sangrasse