segunda-feira, 20 de julho de 2009

Carta para um fazedor de castelos

Caro D.,
É estranho e, ao mesmo tempo repulsivo, como as pessoas são tratados em determinadas instituições.
Fazem-nos acreditar que, apesar de tudo e de todas as dificuldades institucionais, ainda vale a pena investir e sonhar em - no nosso caso - aulas diferenciadas, projetos inovadores e mais um monte de blábláblás.
Preocupam-se com uso disso e daquilo, mas não se preocupam com os "nossos possíveis usos": horas a mais de trabalho, preocupações infindáveis com os alunos, contribuições para um sistema educacional mais criativo, etc.
Por vezes, abarcamos tudo, até o que não nos é devido, para, em seguida, colocarmo-nos como mais uma vítima do sistema burocrático e institucional.
"Fizemos tudo o que foi possível", dizem-nos. será?
Desfazem nossos sonhos e projetos com a mesma facilidade que o mar desfaz os castelos de areia produzidos à beira-mar.
[e somente nós sabemos das dificuldades e arguras, e dos momentos tensos que tivemos para construírmos nossas "fortalezas de areia"].
Ingênuos? não sei. talvez inocentes; soa mais justo.
A inocência vem da criança, ser que ainda acredita num mundo mais digno e, talvez por isso, ainda insista em fabricar seus castelos na beira do mar, mesmo sabendo que a qualquer instante, conforme a força das ondas, será inevitável mantê-los [os castelos] em pé.
O mar até pode destruí-los, transformá-los em apenas mais outros tantos milhares de grãos de areia; entretanto, o mar jamais conseguirá fazer cessar, estancar, proibir, violentar o processo criativo, visceral e avassalador que é o de tornar a fazer castelos [agora, em outros mares, com os devidos cuidados para que ainda se mantenham com os registros de nossas potencialidades].
Espero que, apesar de tudo, ainda prossigas construindo tuas moradas pelas orlas marítimas. Podes ficar tranquilo, pois teus alunos, no que pese o pouco tempo de contato, sabem muito bem de ti, do teu empenho, carinho, ética e vontade em sala de aula. Afectados por ti foram; tua diferença ficou marcada em cada um deles [e em muitos de nós também].
Fique bem, amigo, porque castelos tu fazes como poucos ainda os sabem fazer.

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