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Amar a chuva. Catar seus pingos e catalogá-los em um céu cinzento, sob a égide de um branco vento. Aquosidade de um silêncio. Catástrofe delicada. A grafia para nada. Um traço na ausência. O cinza e o branco, neutros do Neutro. A encenação de um esquecimento.
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E então ele diz que quer fazer da melancolia uma matéria de escrita. Que com um tênue fio de melancolia, tal como o que ele enxerga em Barthes, vai traçar as suas linhas melancólicas. Melancolinhas, diz. Por ser ele um poeta, poderia até dizer que o que ele quer é fazer da melancolia a sua musa. Não seria errado, mas não seria tudo. A melancolia, com ele, parece ter um outro estatuto. Um tanto mais grave. Um tanto mais digno. Nele, a melancolia é o costumeiro abrigo e o pesado fuzil quando ele está cercado e o primeiro já não é suficiente. É sua pequena cantiga de ninar, os sinos da igreja, o seu pequeno refrão. É isso e é também a multidão que o cerca. O quarto escuro. A solidão quando ele está sozinho e longe de casa. A melancolia é o ritmo, ou então qualquer outra neutralidade por entre um paradoxo e outro. Ocorre que, ao menos para mim, fica difícil saber se é a vida que traça as melancolinhas ou então se estas definem aquela. Faça o que quiser, só não me tire a minha melancolia! É tudo que ele pede, dia comum após dia comum. Hora dessas, cumpro minha promessa e empresto para ele aquele livro recheado dos sonhos sonhados em Bunker Hill e que também são os sonhos sonhados por todos nós, como lá escreveu no prefácio um outro poeta dele tão próximo, o Caio F. Guardadas circunstâncias e certas proporções (mesmo que em meio ao atoleiro não exista noção das proporções), nossos sonhos estão mesmo todos lá, pulverizando-se pouco a pouco: o sonho de um trabalho criativo e gratificante, o sonho de um grande amor, o sonho de entradas e saídas triunfantes, seja lá onde for. Estão lá e também estão em suas melancolinhas, que, assim como os sonhos sonhados por Arturo, são de tantos outros além dele. Em todos sonhos, em todas as linhas, o desmentido da fantasia de que a vida, afinal e citando o tal senhor C., seja menos mesquinha.
Quando as melancolinhas são tingidas por uma sutil opacidade, não há nada mais a fazer a não ser deixar-se levar para bem longe, seguindo viagem pelo espaço liso...
Sem outras palavras, potencialmente belo, irmão platino.
Fábio Parise
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